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Kunumí MC lança ‘Moradia de Deus’ e entra para o nosso casting

O trabalho da Let’s GIG desde o início sempre esteve atento a carreiras que demonstram a diversidade cultural do Brasil, numa busca por visibilidade e transformações reais, não só no âmbito cultural, mas em diversos segmentos da sociedade, em um mundo tão marcado pela desigualdade. A partir dessa concepção, atuamos com carreiras que não estavam no eixo Rio-SP, mas sim focadas na produção advinda do interior, com forte representação nas culturas LGBTQIA+ e negra; depois também expandimos fronteiras com artistas das regiões Norte e Nordeste. Agora é com enorme satisfação e responsabilidade que atuaremos com o rapper indígena Kunumí MC, um artista representante do que temos de mais ancestral em nosso país.


Sobre o lançamento do novo trabalho, depois da grande projeção do vídeo de Xondaro Ka'aguy Reguá, o rapper indígena Kunumí MC, de 19 anos, que vive na Aldeia Krukutu (SP), lança mais um single: Moradia de Deus, com clipe dirigido por ele. A faixa foi produzida através do apoio do Programa Convida, que o Instituto Moreira Salles lançou durante este período de pandemia e que já apoiou mais de 125 artistas por todo o país, e também está em todas as plataformas streaming, e o vídeo pode ser assistido aqui.


A música partiu do refrão cantado em guarani - Jaikó, jarekó oó / Jaikó, jarekó tekó, que em português é Vivemos e temos casa / Vivemos e nossa cultura está viva -, que Kunumí conta que escreveu inspirado pelos irmãos, DJ Tupan e Jekupé Mirim. “Com essa música, eu tento levar força para os meus irmãos, canto pra eles este trecho, por exemplo: ‘Na moradia existe uma família / quem protege é você e Deus quem te fortalece / território ancestral viver e crescer com alto astral / vim passar uma visão com respeito, na moral / O nosso corpo, moradia da nossa alma / e numa vida, alegria é o que nos acalma’”. Além disso, ele diz que o conselho que dá também vale para ele próprio: “Às vezes, a gente sabe de muitas coisas, mas é bom ter alguém para nos aconselhar. E quem me aconselha é o meu espírito, meu sentimento. Essa música é bastante espiritual. E vale como uma dica para todos os meus irmãos e irmãs, pelo mundo todo”.


Kunumí revela também que uma semana antes do convite do IMS, ele e sua companheira, Kamilla Silva, já estavam pensando na música, com o tema sobre moradia. “Cada um tem a sua própria casa e lá existe uma família, né? E família é um projeto de Deus. Na moradia, inclusive, está sempre Ele guiando, protegendo. E o nosso corpo também é a nossa moradia, né? Assim como o planeta também é e no final, tudo é moradia de Deus”.


Ilustração de Jaider Esbell e design por Leonardo Sandi


Moradia de Deus fala também sobre a necessidade de preservar a natureza sob a visão de um indígena nativo. Uma mensagem muito importante em tempos que as alterações climáticas vêm causando graves consequências, com fortes tendências de piorar em um período curto de tempo, caso nada seja feito (Sábio índio já sabia, tô passando pra te dar essa dica / Não matar a natureza, porque Deus é natureza / sem ela não vivemos, disso tenho a certeza). E tem um personagem marcante: o som de um Mitã Jaryi, conhecido como Bem-Te-Vi, ave sagrada para o povo Guarani: “Quando um Mitã Jaryi canta é um prenúncio de gestação. Na canção, a presença dele é para dizer que a sonoridade, a música, surgiu com o canto de Mitã Jaryi. O primeiro canto foi quando ele anunciou a gestação do primeiro humano”.


Kunumí também assina a direção do clipe, que foi filmado na Aldeia Krukutu e contou com captação de imagens por ele, sua companheira Kamilla Silva, DJ Tupan e também pelo seu pai, Olívio Jekupé, responsável pela poesia de abertura da canção. A finalização ficou por conta de Joul Matéria Rima e Nicolas MC, e a produção musical é de Agapê.


A capa do single traz um desenho assinado por Jaider Esbell, que participou da primeira etapa do projeto do IMS. Artista multimídia, indígena Makuxi da Terra Indígena Raposa – Serra do Sol. Jaider vive e trabalha em Boa Vista, onde mantém a Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea. É produtor, curador e livre pesquisador do Sistema da Arte Indígena Contemporânea. A inspiração para a ilustração foi uma foto do Kunumí, que gostou bastante do resultado: “Tem um lado espiritual muito forte nessa imagem, assim como na letra da música. Gostei muito de tudo”.

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